terça-feira, 28 de maio de 2013

Estudo indica como aumentar a conservação de frutas amazônicas

Por Karina Toledo
Agência FAPESP – As propriedades funcionais presentes em boa parte das frutas amazônicas já foram reconhecidas por diversos estudos. Mas os consumidores de outras regiões do país e do mundo costumam ter acesso a esses alimentos somente após seu processamento, geralmente na forma de polpa congelada ou de doce. Para facilitar a comercialização in natura, dentro e fora do país, de três espécies nativas da floresta tropical – camu-camu (Myrciaria dubia), bacupari (Garcinia gardneriana) e abiu (Pouteria caimito) – pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) investigaram o ponto ideal de colheita e a temperatura de armazenamento que permite prolongar ao máximo o tempo de vida pós-colheita. “O camu-camu foi escolhido como carro-chefe do trabalho por ser a espécie conhecida com o maior teor de vitamina C. O nível de ácido ascórbico dessa fruta chega a ser 150 vezes maior que o da laranja. Além disso, é rico em antocianina, um pigmento com propriedades antioxidantes”, disse Patrícia Maria Pinto, pesquisadora do Programa de Pós-graduação em Fitotecnia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP). Segundo Pinto, bolsista de Doutorado e de Mestrado da FAPESP, o bacupari foi escolhido por ser rico em carotenoides e possuir princípios ativos com ação bactericida. Já o abiu, além de muito saboroso, é rico em vitaminas A, B e C, além de cálcio e fósforo.
“São frutas pouco exploradas, comercializadas em pequena escala no país e com potencial até para exportação”, disse Pinto.O projeto de pesquisa foi realizado no Laboratório de Pós-Colheita de Frutas e Hortaliças, sob orientação do professor Angelo Pedro Jacomino, do Departamento de Produção Vegetal da Esalq. Parte das análises foi feita na Universidade da Flórida, Estados Unidos, sob supervisão do professor Steven Sargent.

As frutas foram colhidas em diferentes estádios de maturação e, por meio de análises físicas, químicas, fisiológicas e testes de qualidade, foi determinado o período ideal para cada espécie.“Algumas frutas, como a banana, podem ser colhidas ainda verdes. São as chamadas frutas climatéricas. Outras, como o abacaxi e a laranja, precisam estar totalmente maduras, pois o processo de amadurecimento é interrompido com a colheita e, se forem colhidas antes da hora, a qualidade dessas frutas é prejudicada. São as chamadas frutas não-climatéricas”, explicou Pinto. De acordo com os resultados das análises, o camu-camu e o abiu se mostraram viáveis para colheita cerca de 15 dias antes da maturação completa. “O ponto ideal para o camu-camu é quando está com a casca na cor vermelho-esverdeada e, o abiu, com a casca na cor verde-amarela”, disse Pinto. O bacupari, por outro lado, se revelou um fruto não-climatérico. Precisa ser colhido já totalmente maduro, quando a casca atinge a coloração laranja. Em seguida, as frutas foram submetidas a diferentes temperaturas de armazenamento. Os pesquisadores da Esalq verificaram que o abiu e o bacupari podem ser refrigerados a 10 ºC, por mais de 15 dias, sem sofrer alterações de cor nem qualquer outro dano pelo frio. Já o camu-camu pode ser armazenado a 5 ºC, também por mais de 15 dias, sem qualquer prejuízo. À temperatura ambiente, o tempo de vida pós-colheita das frutas foi em torno de uma semana. “Avaliamos a coloração das frutas, a firmeza, perda de massa, o teor de acidez e de sólidos solúveis e a integridade dos pigmentos e das vitaminas para determinar por quanto tempo elas se mantinham viáveis para consumo”, explicou Pinto.
Outras frutas
Embora sejam espécies nativas da Amazônia, as frutas usadas na pesquisa foram todas cultivadas no Estado de São Paulo. Os abius são originários de pomares comerciais da região de Mirandópolis. Os bacuparis e os camu-camus são da Coleção de Frutas Tropicais da Estação Experimental de Citricultura de Bebedouro (EECB), instituição parceira no desenvolvimento do estudo. “Queríamos mostrar aos produtores que, com técnicas corretas, essas espécies da floresta amazônica se desenvolvem bem em outras regiões e têm boa vida pós-colheita”, disse Pinto. 
Segundo ela, as análises usadas no trabalho podem servir de base para outras frutas, entre elas o açaí, principal destaque da fruticultura amazônica. “Há poucos estudos sobre a pós-colheita do açaí in natura. A maioria deles é feita com produtos industrializados, na forma de suco, de polpa congelada ou de pó. Também seria interessante intensificar os estudos com outras espécies amazônicas, como o cupuaçu e o guaraná”, opinou. 

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Substância usada na hipertensão é eficaz para tratar esquizofrenia

Fonte: Agência USP


Pesquisa conjunta entre a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP e Unidade de Pesquisa em Neuroquímica da Universidade de Alberta, Canadá, obtém novo tratamento para a esquizofrenia. Resultados mostraram maior eficácia no controle de todos os seus sintomas, além de ação mais rápida e sem efeitos colaterais. Os achados da pesquisa, coordenada pelos professores Jaime Hallak, da FMRP, e Serdar Dursun, de Alberta, acabam de ser publicados na Revista Archives of General Psychiatry/JAMA Psychiatry.Os medicamentos disponíveis até hoje, segundo os pesquisadores, traziam melhoras somente parciais e agiam, principalmente, nos delírios e alucinações dos pacientes, mas possuíam ação muito discreta, ou mesmo não agiam, sobre outros sintomas, como os negativos e cognitivos. Assim, começaram a testar um tratamento com uma substância já conhecida, o nitroprussiato de sódio, que é utilizado na hipertensão arterial sistêmica grave.
Depois de amplamente testada em animais, estudaram durante três anos sua ação em humanos, os quais apresentavam a fase aguda da doença, com indicação de internação e, no máximo, cinco anos de diagnóstico. Esses pacientes foram internados no Hospital das Clínicas da FMRP e, após uma semana tomando os medicamentos prescritos por seus médicos, aqueles que ainda apresentavam os sintomas da doença foram divididos em dois grupos. O primeiro recebeu placebo e o outro, a medicação à base de nitroprussiato de sódio.

“Os resultados foram impactantes naqueles que receberam o nitroprussiato de sódio”, revela Hallak. Ele conta que houve uma diminuição de todos os sintomas agudos da esquizofrenia já nas primeiras horas de infusão. “Esses pacientes foram avaliados durante as 4 horas de infusão, depois de 12 e 24 horas, depois de 7 e de 28 dias, e continuaram com a melhora. E, o mais importante, não apresentaram efeitos colaterais. A pressão inclusive se manteve normal”, comemora.
Reversão dos sintomas da esquizofrenia
Nitroprussiato de sódio é um tipo de sal que doa o óxido nítrico ao sistema nitrérgico, ou seja, é um vaso dilatador que age na periferia do sistema vascular. Mas no caso da esquizofrenia, o interesse dos pesquisadores foi na ação central (no sistema nervoso central).Várias discussões sobre a fisiopatologia da esquizofrenia, as quais já haviam concluído pela existência de uma disfunção do sistema glutamatérgico nos portadores da doença, serviram de ponto de partida para as pesquisas. “Esse sistema glutamatérgico age muitas vezes utilizando o óxido nítrico como intermediário, ou como um segundo ou terceiro mensageiro. Então, se tiver uma diminuição de alguma função desse sistema neurotransmissor glutamatérgico, diminuiria a produção de óxido nítrico. Assim, após analisar os estudos que trazem essa evidência, hipotetizamos que se fosse reposto o óxido nítrico, haveria a reversão dos sintomas de esquizofrenia. E foi justamente isso que aconteceu”, afirma o professor Hallak.

Potencial cura para a esquizofrenia
Cerca de 1% da população mundial sofre de esquizofrenia, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). A doença é crônica, não tem cura e atinge a pessoa no momento em que todos esperam seu desabrochar, o final da adolescência.Segundo o professor Hallak, nos últimos 60 anos houve um grande avanço na diminuição dos efeitos colaterais dos medicamentos que tratam a esquizofrenia, mas a eficácia ainda é pequena. Esses medicamentos, diz, agem principalmente no sistema dopaminérgico. “Esses medicamentos são muito bons para os sintomas chamados positivos, como delírios e alucinações, por exemplo, o paciente tem uma melhora parcial e os resultados do tratamento demoram para aparecer. Eles não são bons nos sintomas cognitivos, os negativos e afetivos da esquizofrenia.

Para o estudo que foi publicado, os pesquisadores avaliaram os pacientes que receberam o nitroprussiato de sódio até o 28º dia de tratamento. Entretanto, novos estudos conduzidos pelo grupo trazem evidências de que a melhora perdura ao menos até três meses. “Estamos partindo agora para o estudo de doses repetidas”, revela o professor. Os especialistas garantem que, além da própria eficácia do tratamento, esses resultados abrem caminho para pesquisas nessa mesma linha para tratamentos curativos da esquizofrenia. “Esses resultados são a prova de que existem tratamentos mais efetivos e que é possível pensar em cura para a esquizofrenia. Alguns grupos estão pesquisando formas de identificar cada vez mais precocemente marcadores que prevejam o aparecimento da doença. Assim, essas pessoas podem começar um tratamento também precoce com drogas, por exemplo, desta linha. Com isso a chance de se impedir o aparecimento e, consequentemente, a progressão da doença, é muito grande. Estamos abrindo caminho não só para um medicamento, mas também para pesquisa na fisiopatologia, nas causas da esquizofrenia”.
Participaram da pesquisa publicada na JAMA Psychiatry, Melhoria rápida dos sintomas da esquizofrenia agudizada após nitroprussiato de sódio por via intravenosa: um estudo randomizado duplo-cego, placebo-controlado, além dos professores Hallak e Dursun, os professores Glen Baker, João Paulo Maia de Oliveira, José Alexandre Crippa, Antonio Waldo Zuardi, João Abrão, Paulo Roberto Évora e Paulo Abreu.