sábado, 26 de abril de 2014

Cinema comercial e “qualidade” podem caminhar juntos

Por Ana Paula Souza - ana.pin.souza@usp.br
Quem poderia imaginar que Os Embalos de Sábado à Noite e Rocky – Um Lutador, poderiam ter algo em comum? No entanto, além dos recordes de bilheteria e da fama de seus protagonistas, o pesquisador Sergio Eduardo Alpendre de Oliveira, em sua dissertação de mestrado O mal-estar da sociedade americana e sua representação no cinema (1975-1978), apresentada na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, mostra que os dois filmes também se aproximam pelo fato de apresentarem elementos narrativos que retratam a melancolia da sociedade americana na segunda metade da década de 1970. Além disso, entre os principais resultados do estudo, também está o fato de que, ao contrário de que se costuma pensar, cinema comercial e qualidade artística são conceitos que podem, sim, andar lado a lado.
A melancolia escondida
Sob a orientação do professor Eduardo Victorio Morettin, Alpendre analisou as duas obras por mais de dois anos. Ao investigar Os Embalos de Sábado à Noite, filme em que John Travolta viveu o jovem Tony Manero, personagem que se tornou um ícone da era das discotecas, o pesquisador revela que o fenômeno disco, com sua febre de alegria, escondia, na verdade, uma melancolia profunda existente na época. Esse sentimento estava relacionado, entre outros motivos, a diversos eventos que ocorreram nos anos 1970, entre os quais a Guerra do Vietnã, a Crise do Petróleo e o Caso Watergate, o qual resultou na renúncia do presidente Richard Nixon.

Essa melancolia também está presente no caso de Rocky – Um Lutador, que conta a história do boxeador Rocky Balboa. O estudo mostra que o filme, vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Edição, foi muito mais do que um veículo para o ator Sylvester Stallone. Segundo o pesquisador, a obra, além de também trazer elementos relacionados à melancolia da década de 1970, apresenta também uma alta qualidade artística, servindo como um documento histórico de uma época.
Cinema Comercial versus Qualidade Artística

Segundo Alpendre, na época em que os dois filmes foram lançados, o cinema comercial frequentemente tinha valor artístico, algo que o pesquisador afirma ser raro na atualidade. E as duas películas trazem mais uma curiosidade: apesar do sucesso de público, Alpendre conta que os filmes foram produzidos com um orçamento modesto e que não foram elaborados por diretores conhecidos. “É importante destacar que os dois fazem parte de um cinema que não é autoral, feito por diretores pouco celebrados por críticos e cinéfilos, mas que foram feitos em uma época em que o cinema autoral teve, como nunca antes, algum espaço na indústria de cinema americana”, conta o pesquisador. “É preciso chamar a atenção para a qualidade desses filmes, e para algumas injustiças na apreciação que tiveram e ainda têm”.


Para a elaboração da pesquisa, Alpendre assistiu não apenas ao dois filmes, mas também à outras produções da Nova Hollywood, período compreendido entre o começo da década de 1960 e da década de 1980. Entre as outras obras analisadas, estão filmes como Bonnie & Clyde – Uma Rajada de BalasO Poderoso Chefão e Apocalypse Now. O estudo também envolveu a leitura de uma longa bibliografia, na qual se destacam os livros Le Cinéma Americain des Années 70, de Jean-Baptiste Thoret, e Hollywood from Vietnam to Reagan… and Beyond, de Robin Wood, sem tradução para o português, mas considerados por Alpendre como obrigatórios para quem quiser entender o cinema americano do período.

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS EM TERESINA-PI DECORRENTES DA URBANIZAÇÃO E SUPRESSÃO DE ÁREAS VERDES


Resumo da Autora: SÔNIA MARIA RIBEIRO FEITOSA

A urbanização é um fenômeno decorrente do crescimento populacional que acarreta, por meio de diferentes formas de uso do solo, mudanças no ambiente representadas, especialmente, pela supressão da vegetação, gerando fatores que alteram o comportamento dos elementos meteorológicos e modificam o clima. Teresina, nas últimas três décadas, passou por transformações no seu espaço físico, com o elevado crescimento demográfico entre 1970 e 2009, resultando em expansão de áreas construídas em detrimento das áreas verdes. 

O objetivo geral deste trabalho é analisar as alterações na temperatura média do ar, temperatura mínima do ar, temperatura máxima do ar, umidade relativa do ar e precipitação pluviométrica ocorridas na dinâmica espacial e temporal do clima provocadas pela expansão urbana e supressão da vegetação entre 1977 e 2009. Os objetivos específicos são identificar o nível de 
urbanização e as áreas arborizadas, relacionando-as com a tendência dos elementos meteorológicos, nos períodos de 1977 a 1991 e de 1992 a 2009. Foi utilizada a técnica de sensoriamento remoto para quantificar a vegetação e área urbanizada e estimar a temperatura da superfície do solo, por meio da composição do campo termal da superfície. 


Para validação dos resultados, os dados meteorológicos foram submetidos à análise estatística (teste “t”, ANOVA, teste de Mann-Kendall). Os resultados indicaram temperaturas anuais abaixo da média em 1985, sendo 1983 e 1998, os anos mais quentes da série. Maiores aumentos foram observados de agosto a novembro, tendo outubro como o mês que apresenta maior média de temperatura do ar. De 1992 a 2009, quando a cidade já havia perdido parte da vegetação, a temperatura média do ar e a temperatura mínima do ar apresentaram-se mais elevadas que o período de 1977 a 1991, não sendo verificada mudança no comportamento da temperatura máxima do ar, umidade relativa do ar e precipitação pluviométrica. O aumento da temperatura 
mínima do ar pode estar relacionado com evolução urbana e redução de áreas verdes, e contribui para o aumento da temperatura média do ar. 

Futebol foi refém de interesses entre FIFA e Comitê Olímpico

Por Antonio Carlos Quinto - acquinto@usp.br

Interesses econômicos e ideológicos, e uma disputa de poder entre o Comitê Olímpico Internacional (COI) e a Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA), podem ser apontados como fatores fundamentais para a criação da Copa do Mundo. Afinal, o torneio que acontecerá este ano no Brasil, teve sua primeira edição em 1930, no Uruguai, como resultado de uma disputa pelo controle do futebol entre as duas entidades.
“Uma das principais discussões entre FIFA e COI surge em relação ao amadorismo no esporte”, conta o professor de educação física Sérgio Settani Giglio, que defendeu na Escola de Educação Física e Esportes (EEFE) da USP a tese de doutorado COI x FIFA: a história política do futebol nos jogos olímpicos.

Segundo ele, o objetivo inicial da pesquisa era entrevistar atletas brasileiros que participaram de edições dos jogos olímpicos, na modalidade futebol. “Busquei jogadores para saber de suas dificuldades, suas histórias e trajetórias, os que ficaram famosos e os desconhecidos que participaram dos Jogos Olímpicos entre os anos de 1952 e 2008”, conta. A ideia era traçar um perfil destes atletas para compor um estudo maior, coordenado pela professora Kátia Rubio, da EEFE, sua orientadora no doutorado.

No entanto, durante as entrevistas, que foram cerca de 90 com os atletas do futebol, Giglio percebeu um traço comum. “Muitos falaram da condição de ‘amadores’ como sendo um empecilho para ter um contrato com um clube profissional”, conta. Foi quando a questão da definição de “ser amador” lhe chamou a atenção, o que o fez mudar os rumos do estudo.
Embate histórico

Na busca de mais informações sobre a questão, o pesquisador consultou boletins olímpicos do COI. E já no primeiro, datado de 1894, quando da formação da entidade, Giglio encontrou as primeiras discussões sobre o que é ser ou não amador. Além de documentos da época, o pesquisador selecionou para seu doutorado 9 entrevistas, sendo 8 de atletas e 1 com João Havelange, ex-presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD) e da FIFA.

Na definição do COI, segundo o pesquisador, o futebol deveria ter a participação de jogadores amadores. “O requisito favorecia a prática do esporte pela aristocracia, e os jogadores não recebiam nenhum tipo de recompensa”, lembra Giglio. Porém, na década de 1920, o futebol ganhava corpo, principalmente com a implantação do profissionalismo de clubes e com a participação de trabalhadores. “De outro lado, a FIFA era favorável ao pagamento dos jogadores, mesmo que pelo tempo de afastamento que durassem os jogos. Nas entrevistas, alguns jogadores relataram a prática dos ‘contratos de gaveta’, em que assinavam um documento de compromisso de profissionalização após a disputa da olimpíada”.

Mas o futebol já se mostrava altamente lucrativo. “Esse embate levou a um rompimento, em 1928, e fez com que a FIFA organizasse, em 1930, a primeira Copa do Mundo, que reuniu jogadores profissionais e amadores”, lembra o pesquisador. “De lá para cá, alguns acordos foram estabelecidos no decorrer do tempo, como a idade limite de 23 anos para o jogador disputar a olimpíada, sendo a restrição mais recente”, descreve. A tensão entre as entidades já não é grande, visto que a FIFA participa da organização do futebol no COI. “Mas fica claro o embate político financeiro e o controle da FIFA no futebol. A entidade criou torneios sub-20 e sub-17 como forma de alimentar nos atletas o desejo de se disputar uma Copa”, analisa o pesquisador.