quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Método identifica regiões cerebrais relacionadas com o déficit de atenção

Agência FAPESP – Um grupo de pesquisadores do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME-USP) está desenvolvendo técnicas estatísticas e computacionais para analisar grandes volumes de dados, como imagens de ressonância magnética do cérebro, a fim de identificar marcadores biológicos de disfunções neurológicas como o transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH).
Resultados da pesquisa, realizada com apoio da FAPESP, foram apresentados durante o encontro Brazil-UK Frontiers of Engineering, em novembro, em Jarinu, no interior de São Paulo.
Promovido pela Royal Academy of Engineering, do Reino Unido, em colaboração com a FAPESP, o evento reuniu 63 jovens pesquisadores de diferentes áreas da Engenharia – 33 do Brasil e 30 do Reino Unido –, atuantes em universidades, instituições de pesquisa e empresas.
“Há oito anos começamos a desenvolver técnicas que relacionam Estatística e Ciência da Computação para analisar conjuntos de dados em Neurociência e Biologia Molecular e tentar identificar marcadores biológicos mais objetivos e baseados em análises quantitativas de disfunções cerebrais”, disse André Fujita, professor do IME-USP e coordenador do projeto, à Agência FAPESP.
De acordo com Fujita, as técnicas em desenvolvimento permitem comparar, em diferentes populações, a variabilidade das estruturas de agrupamento de dados biológicos, como as das redes neurais.
Já se sabia por meio de estudos realizados pelo mesmo grupo do IME-USP que a estrutura da rede neuronal dos pacientes diagnosticados com TDAH é diferente. Nessas pessoas, o cérebro apresenta uma desorganização do funcionamento dos circuitos neuronais, chamada entropia de rede.
Agora, os pesquisadores usaram o método de análise estatística de variabilidade de estrutura de agrupamentos de dados biológicos – chamado Analys of Cluster Structure Variability (Acnova), desenvolvido em colaboração com colegas da Universidade Federal do ABC (UFABC), da Princeton University, nos Estados Unidos, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) – para identificar regiões específicas do cérebro envolvidas com o transtorno que apresentam maior entropia de rede.
No estudo, eles compararam imagens de ressonância magnética funcional (fMRI) do cérebro em estado de repouso de mais de 600 crianças e jovens, com idades entre 7 e 21 anos, com e sem diagnóstico de TDAH.
As imagens, feitas em oito países, são do consórcio internacional de pesquisa ADHD-200, lançado por universidades e instituições de pesquisa dos Estados Unidos e da China, que mantém um banco de dados aberto com imagens de fMRI do cérebro de crianças e adolescentes com TDAH ou não. A comparação das imagens cerebrais indicou que existem várias diferenças na estrutura de agrupamento do cérebro.


As estruturas de agrupamento das sub-redes neurais que constituem as áreas dos giros pós-central, temporal superior e inferior do cérebro de pacientes com TDAH apresentaram entropia de rede estatisticamente mais elevada em comparação com crianças e adolescentes com desenvolvimento cerebral normal, apontou o método de análise estatística.
Além disso, o método identificou diferenças em regiões do cérebro até então não relacionadas com o transtorno, como o giro angular – que contribui para a integração de informações e desempenha papel importante em muitos processos cognitivos –, afirmaram os autores do estudo.
Fujita estima que, no futuro, poderá ser possível diagnosticar o transtorno neurobiológico por imagens de ressonância magnética funcional do cérebro, comparando as estruturas das redes neurais. E que a nova técnica poderá ser aplicada a outros conjuntos de dados relacionados a outras condições.
“O método que propomos também pode ser aplicado a outros conjuntos de dados biológicos de interesse, não apenas imagens de ressonância magnética funcional, como os de expressão de genes de pessoas diagnosticadas com câncer de mama”, acrescentou.
Resultados da pesquisa foram publicados nas revistas Neuroimage e Statistics in Medicine, entre outras.
O artigo “Measuring network's entropy in ADHD: A new approach to investigate neuropsychiatric disorders (doi: 10.1016/j.neuroimage.2013.03.035), de Sato e outros, pode ser lido na revista Neuroimage emwww.sciencedirect.com/science/article/pii/S1053811913002772.
E o artigo “A non-parametric statistical test to compare clusters with applications in functional magnetic resonance imaging data”(doi: 10.1002/sim.6292), de Fujita e outros, pode ser lido na revista Statistics in Medicine emonlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/sim.6292/pdf

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Emoções negativas influem no consumo de alimento energético

Por Rosemeire Soares Talamone, de Ribeirão Preto - rosetala@usp.br

Problemas comuns do cotidiano como questões financeiras, discussões com o cônjuge, traição, preocupações com os filhos e até morte na família e violência doméstica, levam a emoções negativas como angustia, tristeza, ansiedade e, mais que isso, podem levar mulheres a aumentarem significativamente a ingestão de alimentos energéticos. Esse é o principal resultado de uma pesquisa do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP. Nessas situações, os pesquisadores verificaram que as pessoas não escolhem alimentos doces saudáveis, como frutas, por exemplo, mas preferem os não saudáveis, que na pesquisa foram representados pelo brigadeiro.

Para as pesquisadoras, as nutricionistas Ana Carolina de Aguiar Moreira e sua orientadora Rosa Wanda Diez Garcia, esse dado serve como um alerta para a população em geral. “Como sempre temos algo para comer ao nosso alcance, quando sofremos algum tipo de pressão, estresse, preocupação ou sentimentos que nos desagradam, é fácil recorrer ao consumo de alguma coisa, principalmente doces para nos aliviar. Isso é preocupante porque como estamos expostos a muitas tensões, passamos a incorporar essa prática de nos aliviar com guloseimas o que pode levar ao excesso de peso e, com este, pode vir associado uma série de enfermidades crônicas, como diabetes e hipertensão.”
O objetivo do estudo foi verificar a influência das emoções negativas, geradas por tensões do cotidiano, no consumo energético e de doces considerados saudáveis e não saudáveis por mulheres com sobrepeso e com peso normal, chamadas eutróficas.
Emoções e reações
Para chegar a esse resultado, 43 voluntárias, 20 com sobrepeso e 23 com peso normal, passaram por duas intervenções, com sessões de vídeos, em dias diferentes, com intervalo de no mínimo dois e no máximo de sete dias. Cada mulher assistiu a dois vídeos em pequenos grupos. O video que buscava gerar emoções negativas foi montado com trechos de histórias que abordavam problemas como: discussão entre cônjuges, problemas no trânsito, dificuldades financeiras, falta de reconhecimento no trabalho, acidente no trabalho, assédio sexual, precariedade no sistema público de saúde, traição, toxicodependência (álcool e drogas), morte na família e violência doméstica. O outro video que tinha o objetivo de não gerar emoção, abordava situações corriqueiras como: acordar, escovar os dentes, caminhar, conversar com colegas, arrumar a casa, dormir, entre outras.
Após as sessões, foram oferecidos lanches às voluntárias. Elas puderam consumir à vontade. O lanche era composto por salgados, pão de queijo e bolinha frita de queijo, e bebidas, suco de laranja sem açúcar e refrigerante e, entre estes alimentos, haviam os alimentos doces: uvas representando o doce saudável, e o brigadeiro, considerado não saudável.
Ao ser comparado o consumo energético quando elas foram expostas ao vídeo com cenas como acordar e dormir, que visava não gerar emoção, o consumo energético das mulheres com sobrepeso foi 39% maior em relação àquelas com peso normal, mostrando que este grupo come mais que o grupo de mulheres com peso normal.
Quando as mulheres de ambos os grupos foram expostas às emoções geradas por problemas como questões financeiras e violência doméstica, entre outros, os dois grupos aumentaram significativamente o consumo energético, principalmente comendo doces não saudáveis. “Curiosamente, as mulheres com peso normal apresentaram aumento significativamente maior do que as participantes com sobrepeso, em relação ao vídeo que visava não gerar emoção. Tanto o consumo energético foi maior, como o de doce não saudável. Elas aumentaram em 82% a ingestão de doce não saudável e 51%, o consumo energético, enquanto o grupo com sobrepeso aumentou 48% e 39%, respectivamente.”

Para as pesquisadoras, uma possível explicação para esse resultado é que as pessoas com excesso de peso são mais vigilantes e podem estar mais alertas para situações em que podem se exceder.  O grande diferencial desse estudo, segundo Ana Carolina, foi ter avaliado a influência de emoções provocadas por problemas comuns do cotidiano.
“Geralmente, os estudos experimentais abordam emoções muito especificas que não ocorrem com tanta frequência no dia a dia e que, portanto, não simulam condições de vida mais realistas.”
A pesquisa de mestrado Influência das emoções geradas por eventos de vida no consumo alimentar em mulheres foi defendida em 2014, junto ao programa de pós-graduação em Clínica Médica - Investigações  Biomédica, na FM
RP.