segunda-feira, 16 de março de 2015

Mudança de uso da terra e impacto na matéria orgânica do solo em dois locais no Leste da Amazônia

Diana Signon Deon
Mudanças de uso da terra afetam a dinâmica da matéria orgânica e o acúmulo de C e N no solo e estão associadas a emissões de gases de efeito estufa (GEEs). A região Amazônica é relevante para as emissões brasileiras de GEEs oriundas das mudanças de uso da terra. O objetivo deste trabalho foi determinar alterações quantitativas e qualitativas nos estoques de C e N no solo em função de mudanças de uso da terra em Santarém-PA e São Luís-MA. Foram coletadas amostras de solo sob diferentes usos da terra: vegetação nativa, vegetação secundária, pastagem degradada, pastagem melhorada e agricultura anual. Adicionalmente, foram avaliadas áreas de mata queimada em Santarém-PA e de fruticultura e horticultura em São Luís-MA. Houve diferenças entre os solos de vegetação nativa nos dois locais, apesar dos estoques de C e N terem sido similares. Em Santarém, fósforo e granulometria relacionaram-se aos estoques de C e N. 

Em São Luís a acidez potencial ajudou a estimar o estoque de C; granulometria e capacidade total de troca de cátions estimaram o estoque de N. Os estoques de C e N na vegetação secundária foram similares aos da vegetação nativa nos dois locais e relacionaram-se com a acidez potencial do solo. Em Santarém o estoque de C (0-30 cm) na pastagem melhorada foi maior que na vegetação nativa. Em São Luís, o estoque de C foi semelhante ao da vegetação nativa. Os estoques de N tiveram comportamento similar aos estoques de C. Na pastagem melhorada de Santarém a soma de bases foi importante para estimar os estoques de C e N; em São Luís houve efeito negativo da densidade do solo. Estoques de C e N nas pastagens degradadas foram semelhantes à vegetação nativa, mas foram influenciados por parâmetros diferentes. Áreas de agricultura anual apresentaram estoques de C inferiores aos das pastagens melhoradas e da vegetação nativa e a sua manutenção relaciona-se com a redução da acidez potencial e com o aumento das bases trocáveis. A qualidade da matéria orgânica do solo foi avaliada nas amostras de São Luís. A mudança de uso da terra reduziu o C na fração orgânica (75-2000 ?m), mas os usos mais conservacionistas aumentaram o C nas formas estáveis (< 53 ?m). Vegetação secundária e pastagem recuperada apresentaram índice de manejo de C semelhantes aos da vegetação nativa. A conversão de vegetação nativa para agricultura ou pastagem reduziu o C na biomassa microbiana, mas os sistemas com grande aporte de material orgânico e com reduzida mobilização do solo apresentaram teor de C microbiano similar à vegetação nativa. Pastagem e agricultura também apresentaram os menores quocientes microbianos, indicando condição de estresse da biomassa microbiana.
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quarta-feira, 11 de março de 2015

Primeiro centro de pesquisa no Brasil no modelo "open science" é lançado

Por Karina Toledo

Agência FAPESP – Identificar no genoma humano proteínas-chave para o desenvolvimento de novos medicamentos e descobrir como tornar plantas importantes para a agricultura mais resistentes à seca são os objetivos do recém-criado Centro de Biologia Química de Proteínas Quinases da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), cuja apresentação oficial ocorreu nesta terça-feira (10/03).
Apoiado pela FAPESP por meio do Programa Parceria para Inovação Tecnológica (PITE), o centro funcionará em um modelo de open science (acesso aberto ao conhecimento), integrando a rede do Structural Genomics Consortium (SGC), uma parceria público-privada que reúne cientistas, indústrias farmacêuticas e entidades sem fins lucrativos de apoio à pesquisa.
“O SGC mantém outros dois centros sediados na Universidade de Oxford (Inglaterra) e na Universidade de Toronto (Canadá), ambos dedicados a estudar proteínas de importância biomédica. Aqui na Unicamp pretendemos, além de avançar nessa área, aproveitar o conhecimento e a tecnologia desenvolvida em parceria com a indústria farmacêutica para aprender também sobre biologia de plantas”, disse Paulo Arruda, professor de genética no Instituto de Biologia da Unicamp e coordenador da nova unidade brasileira.
Diante de um cenário de mudanças climáticas, no qual os eventos extremos devem se tornar mais frequentes, a meta é descobrir como aumentar a produção agrícola e, ao mesmo tempo, reduzir o consumo de água.

Para isso, as pesquisas terão como alvo um grupo de enzimas conhecidas como quinases que, por serem responsáveis por regular importantes processos tanto no organismo humano como em plantas – entre eles divisão, proliferação e diferenciação celular –, são consideradas potenciais alvos para o desenvolvimento de drogas.
O acordo assinado na terça-feira em São Paulo prevê um aporte de US$ 4,3 milhões da FAPESP, além de US$ 1,9 milhão da Unicamp e outros US$ 1,3 milhão do SGC. Os resultados das pesquisas estarão disponíveis à comunidade científica mundial, sem o obstáculo imposto por patentes ou qualquer outro acordo de propriedade intelectual, como já ocorre nos outros dois centros de pesquisa do SGC.
De acordo com Arruda, as atividades do novo centro devem ter início em julho. A estrutura prevista para os primeiros cinco anos deve englobar entre 25 e 30 pesquisadores. “Mas sabemos que iniciativas como essas atraem bons estudantes e pós doutorandos, então pode até se tornar maior. Qualquer interessado em estudar o assunto, de qualquer instituição, poderá se juntar ao grupo”, disse.
Ao abrir a cerimônia de assinatura do acordo, o presidente da FAPESP, Celso Lafer, classificou a iniciativa como um “grande mutirão em prol do avanço do conhecimento” e destacou que ela poderá ajudar a encontrar novos fármacos para doenças como câncer e Alzheimer.
O diretor científico da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz, disse que, desde o início das discussões para a criação do centro, a Fundação avaliou a proposta como “muito interessante”, pois engloba atividades consideradas especialmente importantes para o desenvolvimento da ciência e da tecnologia no Estado de São Paulo.
“Oferece oportunidade de fomentar pesquisas que vão levar a resultados de alto impacto intelectual, social e econômico. Além disso, cria oportunidades de colaboração internacional para pesquisadores de São Paulo. Por último, cria a oportunidade para os pesquisadores paulistas trabalharem em parceria com empresas”, afirmou Brito Cruz.
Rede mundial
O SGC mantém atualmente colaboração com mais de 300 grupos de pesquisas em 40 países. Também conta com a parceria de dez dos maiores laboratórios farmacêuticos do mundo, entre eles GlaxoSmithKline (GSK), Novartis, Pfizer e Bayer, que contribuem não apenas com financiamento como também com expertise no desenvolvimento de ferramentas essenciais para entender o funcionamento das quinases, disse Aled Edwards, fundador e presidente do consórcio.

“A melhor forma de descobrir como uma quinase funciona é inventar uma pequena molécula, uma sonda química, capaz de se ligar especificamente à enzima-alvo e inibir seu funcionamento. Então você injeta em um animal e vê o que acontece. Mas cada uma dessas sondas químicas leva entre 18 meses a 2 anos para ser desenvolvida e o custo é muito alto”, disse Edwards.
Além de disponibilizar algumas sondas químicas já existentes em sua biblioteca de compostos, as farmacêuticas parceiras da iniciativa, como a GSK, ajudarão a desenvolver no centro da Unicamp nos próximos anos pelo menos 15 novas moléculas voltadas a investigar o funcionamento de quinases ainda pouco conhecidas pela ciência.
Segundo Edwards, o projeto genoma humano revelou a existência de mais de 500 tipos de quinases, mas até hoje apenas cerca de 40 foram bem estudadas.
“O modelo de financiamento de pesquisa em todo o mundo faz com que cientistas de todos os lugares trabalhem nos mesmo projetos. Nossa proposta é trabalhar com as quinases com as quais ninguém está trabalhando, pois acreditamos que lá encontraremos as novidades de grande impacto para o desenvolvimento de novas drogas. E congratulamos a FAPESP e a Unicamp por dividirem conosco o risco de trabalhar com o desconhecido”, destacou.
Presente à cerimônia de assinatura do acordo, o representante da GSK, Bill Zuercher, explicou que a parceria com o SGC e o modelo de inovação aberta representam para as empresas farmacêuticas uma esperança de reduzir a alta taxa de fracasso no processo de desenvolvimento de novas drogas. Atualmente, cerca de 96% dos candidatos a medicamentos não obtêm sucesso na etapa de ensaios clínicos e não chegam ao mercado.
“Uma das causas desse alto índice de fracasso é a escolha inapropriada do alvo inicial da droga. E esse não é um problema fácil de solucionar. Precisamos ampliar o conhecimento sobre a biologia fundamental e esse é o tipo de pesquisa que mesmo uma empresa grande como a GSK não é capaz de fazer sozinha. Levaria séculos para entender o funcionamento de todas as quinases”, disse Zuercher, encarregado de estruturar a parte de química medicinal no novo centro da Unicamp.
O vice-reitor da Universidade Estadual de Campinas, Alvaro Crósta, destacou que o SGC-Unicamp será o primeiro polo de pesquisa brasileiro criado dentro do paradigma da inovação aberta.
“Esse modelo se adequa muito bem às etapas iniciais de desenvolvimento de novos fármacos pelo imenso volume de moléculas a serem analisadas. Além do impacto muito significativo para a saúde pública, a iniciativa promoverá forte interação acadêmica entre docentes, pesquisadores, estudantes de graduação e pós-graduação com seus pares nas instituições parceiras. Certamente surgirão oportunidades de ampla colaboração, aumentando a presença e o impacto internacional das nossas atividades”, disse.
Também participou da cerimônia Wen Hwa Lee, ex-aluno da Unicamp que hoje atua como gerente de alianças estratégicas do SGC e foi um dos intermediadores da parceria.
Outra presença de destaque foi o pesquisador da Universidade de Oxford Opher Gileadi, que ficará no Brasil em tempo integral durante o primeiro ano de funcionamento do centro para ajudar a organizar seu funcionamento.
“A área de estudos com plantas será cheia de surpresas. Pegaremos os reagentes e os conhecimentos desenvolvidos para humanos e usaremos em plantas. O ponto de partida será aquilo que já esperamos que aconteça, mas, acredite, o mais interessante será o inesperado”, disse Gileadi.


Leia mais sobre o novo centro em http://agencia.fapesp.br/19056.