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quarta-feira, 22 de julho de 2015

Demência vascular é mais comum que Alzheimer em idosos

Por Júlio Bernardes - jubern@usp.br
Agência USP
Pesquisas realizadas em cérebros armazenados no Banco de Encéfalos da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) revelam maior prevalência de demência vascular e doença de pequenos vasos entre idosos, em comparação com a da doença de Alzheimer. Os estudos realizados no Banco, organizado pelo Grupo de Estudos em Envelhecimento Cerebral, encontraram alterações decorrentes de lesões cerebrais causados por problemas da circulação sanguínea, compatíveis com o quadro de demência vascular. A descoberta pode auxiliar na prevenção da doença, associada a fatores de risco cardiovascular, como hipertensão e diabetes.

Anteriormente, acreditava-se que a principal causa de demência entre idosos brasileiros era a doença de Alzheimer, a exemplo do que era verificado em estudos realizados no exterior. “A pesquisa avaliou 1.291 casos, sendo que 113 atenderam os critérios para o grupo ‘demência’, e entre os restantes, foram sorteados 100 para o grupo ‘controle’”, diz a professora Lea Grinberg, da FMUSP, que coordenou a pesquisa. “Os critérios de inclusão no grupo ‘demência’ foram ter mais de 50 anos, apresentar demência moderada ou grave e ter doado o cérebro para o Banco de Encéfalos”.


Os pesquisadores realizaram análises neuropatológicas, que verificaram a existência de lesões vasculares, tipo infarto ou arteriosclerose, ou depósitos de proteínas características de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson. “Para isso, usamos técnicas de imuno-histoquímica”, aponta Lea. “Em todos os casos, os dados clínicos foram obtidos com os familiares e um grupo de especialistas analisou os dados para chegar a um diagnóstico clínico”.
Os resultados da pesquisa comprovaram a hipótese de que na população de São Paulo grande parte dos casos de demências poderiam ter sido prevenidos se os fatores de risco cardiovasculares, como pressão arterial, colesterol e obesidade, tivessem sido tratados adequadamente. “Não existe tratamento para a demência, mas é possível evitar ou retardar seu aparecimento quando a causa é um problema da circulação sanguínea”, ressalta a professora. “Há consciência de que o controle de fatores de risco vasculares têm impacto positivo na saúde do coração. A pesquisa mostra que esse efeito pode se estender ao cérebro”.
Biobanco
O Banco de Encéfalos do Grupo de Estudos em Envelhecimento Cerebral da FMUSP surgiu a partir de um projeto pontual de pesquisa iniciado em 2003, que visava analisar 500 cérebros. “O objetivo é manter um biobanco para apoiar a realização de pesquisas sobre envelhecimento e doenças neurodegenerativas relacionadas”, conta a professora Renata Leite, que coordena as atividades realizadas no Banco de Encéfalos. “Atualmente, estão armazenados cerca de 3.500 cérebros”. Os cérebros são obtidos junto ao Serviço de Verificação de Óbitos da Capital (SVOC) da USP, responsável por esclarecer a causa de morte em casos de morte natural (causas não externas).

As famílias comparecem ao Serviço para reclamar o corpo, procedimento que envolve a assinatura de documento dando consentimento à autópsia. Nesse momento, a equipe do Banco de Encéfalos aborda a família para solicitar a doação do cérebro. “Uma vez realizada a doação, é feita a coleta”, relata a professora da FMUSP. “Parte dos encéfalos é conservada em formol e a outra é congelada”. O índice de concordância com a doação é de 94%. A prioridade é para os cérebros de pessoas com mais de 50 anos, para servir de suporte aos estudos sobre envelhecimento.
A equipe do Banco conta com três pesquisadores-seniores, os professores da FMUSP, Wilson Jacob Filho (área de Geriatria), Ricardo Nitrini (Neurologia) e Carlos Augusto Gonçalves Pasqualucci (Patologia), diretor do SVOC. Também participam os professores Renata Ferretti, da Escola de Enfermagem (EE) da USP, que coordena a abordagem junto às famílias dos doadores, Renata Leite e Lea Grinberg, da área de Patologia da FMUSP, Claudia Suemoto e José Marcelo Farfel (Geriatria), além de alunos de iniciação científica e pós-graduação.
O Banco de Encéfalos venceu o 7º Prêmio Inovação Medical Services, na categoria Ações, em premiação da área de saúde pública realizada pela empresa Sanofi, no último mês de maio. O estudo sobre demência vascular é descrito em artigo da revista Clinics, assinado por Lea Grinberg, Ricardo Nitrini, Claudia Suemoto, Renata Ferretti, Renata Leite, José Marcelo Farfel, Erika Santos, Mara Patrícia Guilhermino de Andrade, Ana Tereza Di Lorenzo Alho, Maria do Carmo Lima, Katia Oliveira, Edilaine Tampellini, Livia Polichiso, Glaucia Santos, Roberta Diehl Rodriguez, Kenji Ueda, Carlos Augusto Gonçalves Pasqualucci e Wilson Jacob-Filho.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Manteiga enriquecida pode ajudar pacientes com Alzheimer

Agência USP

A introdução de uma manteiga enriquecida com ácido linoleico conjugada (CLA) — um tipo de ácido graxo encontrado na gordura de lacticínios — na dieta de ratos aumentou a atividade de uma enzima ligada à memória. Os resultados dos testes foram publicados, em abril, no Journal of Neural Transmission, e o estudo sugere que o consumo de alimentos ricos em CLA pode ser útil para pacientes com a Doença de Alzheimer.Entre os autores da pesquisa estão Wagner Gattaz, Leda Leme Talib, Emanuel Dias Neto e Fábio Mury, do Laboratório de Neurociências – LIM 27, do Instituto de Psiquiatria (IPq), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). Também assinam o artigo Marcos Gama e Fernando Lopes, da Embrapa, e Nadia Rezende Raposo, da Universidade Federal de Juiz de Fora.De acordo com Leda Leme Talib, chefe do Laboratório de Neurociências, estudos da literatura científica demonstram que pacientes com Alzheimer apresentam baixa atividade de uma enzima chamada fosfolipase A2 (PLA2) no cérebro, ela está ligada às estruturas cerebrais relacionadas à memória.“A fosfolipase A2 (PLA2) é uma enzima que atua sobre fosfolípides, gorduras constituintes das membranas celulares, e ácidos graxos, que funcionam como mediadores na formação da memória. Na pesquisa, observamos que a ingestão de alimentos ricos em ácido linoleico modulou a atividade dessa enzima, essa maior atividade da fosfolipase implicou em uma melhora da memória dos animais em estágio inicial do Alzheimer”.



Leda explica que em pacientes sem Alzheimer, as membranas celulares são fluídas e renovadas normalmente, mas em pacientes com a doença, as membranas são rígidas e dificultam a liberação de ácidos graxos, como o ácido linoleico, que influencia nos mecanismos de formação da memória. Por isso o aumento da atividade da fosfolipase A2, que atua nas camadas das membranas celulares, pode ter contribuído para melhorar a memória dos animais.TestesDurante quatro semanas, ratos receberam dietas com quantidade normal de ácido linoleico (grupo controle), quantidade elevada (manteiga enriquecida) e abaixo do normal. Eles foram ensinados a desempenhar determinada tarefa para analisar a situação da memória.A análise do tecido cerebral dos animais mostrou que os alimentados com maior quantidade de ácido linoleico apresentavam maior atividade das fosfolipases, correlacionada à melhoria da memória dos animaisApesar de os testes sugerirem que os produtos lácteos enriquecidos com ácido linoleico podem ser úteis no tratamento da doença, a pesquisadora alerta que precisam ser feitos mais estudos. “Precisamos analisar o que essa alimentação rica em gordura pode acarretar na saúde dos animais, são necessárias mais intervenções até chegarmos às análises com humanos”, avisa Leda.


quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Consumo de castanha-do-brasil pode melhorar função cognitiva

Por Hérika Dias - herikadias@usp.br

Pesquisa da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP mostrou que o consumo diário de uma castanha-do-brasil, conhecida por castanha-do-pará, recuperou a deficiência de selênio e ainda teve efeitos positivos sobre as funções cognitivas de idosos com comprometimento cognitivo leve (CCL), considerado um estágio intermediário entre o envelhecimento normal e demências, como a Doença de Alzheimer.


A nutricionista Bárbara Cardoso explica que o CCL é caracterizado pela perda cognitiva (processo que envolve atenção, percepção, memória, raciocínio, juízo, imaginação, pensamento, linguagem) maior do que o esperado para a idade. “Pessoas com comprometimento cognitivo leve têm mais risco de desenvolver Alzheimer”, diz a pesquisadora e autora da tese de doutorado. Efeito do consumo de castanha-do-brasil (Bertholetia excelsa H.B.K) sobre o estresse oxidativo em pacientes com comprometimento cognitivo leve e a relação com variações em genes de selenoproteínas.




Entre as análises feitas pela nutricionista está a associação entre os níveis de selênio e o estresse oxidativo (excesso de radicais livres em comparação com o sistema protetor de cada célula) em pessoas com CCL.
Bárbara explica que o estresse oxidativo está envolvido no declínio cognitivo. Pacientes com comprometimento cognitivo leve ou Doença de Alzheimer apresentam maiores níveis de estresse oxidativo.
“Com o avanço da idade, os neurônios apresentam maior ineficiência no processo de produção de energia, com o aumento da geração de radicais livres. Já a capacidade do sistema antioxidante, que combate esses radicais, tende a reduzir. Esse descompasso contribui para o comprometimento cognitivo leve porque os radicais livres acabam afetando o sistema motor, sensorial, a memória e o aprendizado”, afirma Bárbara. 
O selênio é um importante mineral que constitui enzimas antioxidantes cuja finalidade é combater a formação de radicais livres. E os resultados da pesquisa indicam que o consumo da castanha-do-brasil pode melhorar a resposta antioxidante e atenuar o declínio cognitivo.


Metodologia


Foram selecionados 20 idosos de ambos os sexos, frequentadores do Ambulatório de Memória do Idoso, do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina (FM) da USP, sendo que 95% deles apresentavam deficiência em selênio. “Esse alto índice era esperado, o solo da região Sudeste é pobre em selênio e a população de São Paulo tem tendência à deficiência de selênio”, conta Bárbara.
Durante seis meses, a nutricionista acompanhou dois grupos de idosos. O primeiro ingeriu uma castanha-do-brasil por dia e o outro não recebeu nenhuma intervenção. Após o período, no grupo que consumiu a castanha diariamente, todos deixaram de apresentar a deficiência de selênio.


Os grupos também passaram por avaliação neuropsicológica antes e depois da intervenção com a castanha-do-brasil. “Os testes analisaram domínios cognitivos, como a fluência verbal, capacidade de copiar desenhos, reconhecimento de figuras, entre outros. E o grupo que ingeriu a castanha apresentou melhora nos aspectos de fluência verbal, avaliada pelo número de animais que o entrevistado consegue mencionar durante um minuto, e praxia construtiva, avaliada pela capacidade do entrevistado em fazer cópia de quatro desenhos apresentados pelo examinador (círculo, losango, retângulos sobrepostos e cubo)”.
Segundo a nutricionista, “apenas uma unidade de castanha-do-brasil forneceu 288,75 microgramas de selênio ao dia, aumentando o consumo de selênio para além da recomendação diária (55 microgramas/dia), mas sem ultrapassar o limite tolerável de 400 microgramas”.


quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Desacoplamento de neurônios pode ser estratégia de neuroproteção


Por Fábio de Castro
Agência FAPESP – Além das conhecidas sinapses químicas – que permitem a interação entre as células nervosas, envolvendo neurotransmissores e receptores –, os neurônios também se comunicam com sinapses elétricas. Nesse tipo de sinapse, correntes de íons passam diretamente de uma célula a outra por meio de canais conhecidos como “junções comunicantes”, produzindo um acoplamento entre os neurônios.
Uma pesquisa realizada por pesquisadores brasileiros mostrou que desacoplar os neurônios pode ser uma estratégia simples e eficaz para a neuroproteção – isto é, interromper processos de morte celular relacionados a doenças neurodegenerativas como Parkinson, Alzheimer e epilepsia.
O estudo, publicado na revista PLoS One, foi liderado pelo professor Alexandre Kihara, coordenador da pós-graduação em Neurociência e Cognição da Universidade Federal do ABC (UFABC). O trabalho foi realizado com apoio da FAPESP por meio do Programa Jovens Pesquisadores em Centros Emergentes.
Além de Kihara, participaram da pesquisa seus orientandos de doutorado Vera Paschon e Guilherme Higa – ambos bolsistas da FAPESP –, além dos professores Luiz Roberto Britto, do Departamento de Fisiologia e Biofísica do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP), e Rodrigo Resende, do Departamento de Bioquímica e Imunologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Segundo Kihara, embora sejam historicamente menos estudadas que as sinapses químicas, sabe-se hoje que as sinapses elétricas são fundamentais em diversas funções fisiológicas e cognitivas, como desenvolvimento, aprendizado, memória e percepção. Estudos recentes têm mostrado, também, que a participação das junções comunicantes no acoplamento entre os neurônios está relacionada com o espalhamento da apoptose, ou morte celular.
“Na apoptose, que é um processo comum a todas as doenças neurodegenerativas, o neurônio altera sua programação interna para ‘se suicidar’. Ocorre que, se um neurônio em apoptose estiver acoplado com um neurônio sadio – como mostra nosso estudo –, esse acoplamento permite a passagem de determinadas moléculas que aumentam a probabilidade de o neurônio sadio entrar em apoptose também”, disse Kihara à Agência FAPESP.
Segundo Kihara, no entanto, os cientistas ainda estão investigando quais são as moléculas envolvidas no espalhamento da apoptose por meio do acoplamento entre os neurônios. Além de tradicionais segundos mensageiros – como IP3, um importante sinalizador de cálcio – , o grupo da UFABC levanta a hipótese de que os microRNAs (miRNAs) podem estar envolvidos no processo.
“Os miRNAs regulam negativamente a tradução e representam uma camada adicional de controle entre o RNAm e as proteínas. A proposta de que miRNAs possam trafegar por junções comunicantes é considerada muito ousada. No entanto, ninguém conseguiu levantar argumentos concretos contra a hipótese, enquanto nós já temos alguns indícios a favor”, disse Kihara.
Para que ocorra um trânsito de moléculas entre as células, não basta que elas estejam acopladas. É preciso também que existam gradientes – isto é, que um dos neurônios acoplados tenha uma concentração de moléculas maior que o outro. Sendo assim, os pesquisadores usaram a estratégia de gerar gradientes a partir de lesões feitas com agulhas finíssimas nas retinas de galos.
A lesão era focada o suficiente para produzir a morte celular em um ponto específico do tecido, sem afetar o entorno, gerando um gradiente. Esse acoplamento foi manipulado farmacologicamente com diversas drogas. Quando os fármacos desacoplavam os neurônios, os pesquisadores observaram uma redução do espalhamento da morte celular.
“A estratégia foi produzir uma lesão aguda e localizada, com o intuito de gerar gradientes de concentração no tecido, para em seguida desacoplar bioquimicamente os neurônios. Para isso, uma dupla abordagem foi realizada, combinando lesões de retina in vivo e explantes de retina, modelo in vitro, mais adequado que as tradicionais culturas de células”, explicou Kihara.
Aplicação potencial
A estratégia de neuroproteção utilizando diferentes moléculas que desacoplam neurônios foi também capaz de regular negativamente genes pró-apoptóticos como as caspases. “A estratégia se mostrou tão eficiente que foi reproduzida in vivo, resultando em diminuição da área afetada e da morte neuronal”, disse Kihara.
“Mostramos também que os neurônios que estão em apoptose mantêm a expressão de conexinas – que são proteínas responsáveis por formar os canais de junções comunicantes, permitindo a ocorrência do acoplamento. Isso é importante, porque assim pudemos eliminar a hipótese de que um neurônio em processo de apoptose pudesse deixar de expressar as proteínas que formam o canal de acoplamento”, disse.
Segundo Kihara, a partir de agora os estudos irão investigar a hipótese de que os miRNAs transitem pelos canais de junções comunicantes e participam do processo de espalhamento da apoptose entre células acopladas.
A equipe que trabalhará com essa hipótese terá a participação de Erica de Sousa, aluna de graduação da UFABC e autora de um capítulo sobre miRNAs no livro Sinalização de Cálcio: Bioquímica e Fisiologia Celulares, que será lançado no início de outubro, no 1º Simpósio Brasileiro de Sinalização de Cálcio: Bioquímica e Fisiologia Celulares, na UFMG.
De acordo com Kihara, os estudos continuarão também a explorar as possibilidades de utilizar o desacoplamento de neurônios como estratégia de neuroproteção, com potencial aplicação no tratamento de doenças neurodegenerativas.
“Continuaremos investigando como e quando fazer isso de forma mais eficiente dependendo da doença. Mas acreditamos que uma nova porta foi aberta para estudos em neurodegeneração”, disse.