terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Cientistas avaliam novos materiais para enxertos ósseos

Por Valéria Dias - valdias@usp.br
Estudo realizado no programa de Pós-Graduação Interunidades em Bioengenharia da USP traz contribuições para o aperfeiçoamento dos enxertos ósseos. O médico ortopedista Helton Hiroshi Hirata analisou se as matrizes de colágeno extraído das membranas que revestem o coração (pericárdio) e o intestino (serosa) bovinos poderia ser utilizada como enxerto ósseo.
Os resultados da pesquisa realizada em animais indicaram que houve biocompatibilidade das matrizes, ou seja, não houve rejeição; entretanto, não foi verificada a osteointegração do material e a regeneração óssea foi insuficiente na matriz pesquisada. “Percebemos que o osso dos animais cresceu com os enxertos, mas não o suficiente para considerar que houve uma osteointegração satisfatória”, diz Hirata.
O ortopedista explica que, atualmente, os materiais utilizados para a realização dos enxertos são a base de hidroxiapatita e apresentam custo mais elevado. “Por isso, existe a necessidade de realizar pesquisas que busquem materiais alternativos. E um dos materiais utilizados nesses estudos é o pericárdio e a serosa de intestino bovino por serem ricos em colágeno [90% da constituição orgânica do osso é de colágeno] e também pela grande disponibilidade desses animais no Brasil devido à pecuária.”
As matrizes de colágeno foram desenvolvidas no Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da USP, pelas professoras Ana Maria de Guzzi Plepis e Virgínia da Conceição Amaro Martins. O material foi quimicamente modificado, até se transformar em um substrato, com textura semelhante a de uma esponja, porém mais firme.

Testes
No estudo foram utilizadas 30 ratas, com 3 meses de idade e peso médio de 300 gramas. Metade foi submetida a falha óssea circular no osso parietal esquerdo. Na outra metade, foi feita a retirada dos ovários e, após 4 meses, os animais foram submetidos a mesma falha craniana. “A ideia do projeto era simular um ambiente ósseo patológico, a osteoporose, e verificar a viabilidade do enxerto sintético biológico em substituição ao auto enxerto. Para tanto, foi realizada a retirada dos ovários das ratas levando à diminuição do estrógeno e provocando a osteoporose.”
Tanto as ratas ovarioectomizadas como as sadias foram separadas em 3 grupos, para a aplicação de 3 tratamentos distintos: sem uso das matrizes de colágeno; uso das matrizes de colágeno derivadas do pericárdio; e uso das matrizes de colágeno derivadas da serosa do intestino.
Após 8 semanas da cirurgia craniana, os animais foram eutanaziados e as calotas cranianas passaram por avaliação macro e microscópica, radiológica e histomorfométrica, para verificar a presença de alguma alteração patológica ou qualquer outra condição anormal que pudesse sugerir rejeição às matrizes utilizadas.
Resultados
Entre outros resultados, estão: apesar de pequeno, o crescimento ósseo na presença das matrizes de colágeno foi 3 vezes maior nas ratas sadias (não ovariectomizadas) e 5 vezes maior nas ratas ovariectomizadas, em comparação com as ratas sem matrizes. Não houve diferença quanto à capacidade osteogênica (formação de ossos) entre as matrizes estudadas. “Com isso, concluímos que apesar da insatisfatória capacidade osteogênica, as matrizes demonstraram biocompatibilidade”, conclui o médico.
A pesquisa de mestrado Viabilidade das matrizes de colágeno derivadas do pericárdio e da serosa de intestino bovino no reparo dos defeitos cranianos em ratas ovarioectomizadas foi apresentada no último dia 13 de dezembro sob a orientação do professor Marcelo Rodrigues da Cunha, do Programa de  Pós-Graduação Interunidades Bioengenharia.
O Programa envolve a Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), o Instituto de Química de São Carlos (IQSC) e a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP).
Foto: Wikimedia

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