Agência FAPESP –
Uma ferramenta desenvolvida por um grupo de pesquisadores do Brasil e dos
Estados Unidos deverá ajudar a comunidade científica a estudar inúmeros
aspectos do complexo genoma da cana-de-açúcar. Um artigo publicado pelo grupo no veículo de acesso
aberto Bio Med Central Research Notes descreveu a construção e
sequenciamento da biblioteca de Cromossomo Artificial de Bactéria (BAC) de uma
importante variedade comercial de cana-de-açúcar. As bibliotecas BAC são consideradas ferramentas
fundamentais para a caracterização detalhada de regiões cromossômicas que
contêm genes de interesse. O uso de clones dessas bibliotecas possibilita o
mapeamento físico em ampla escala do genoma. Participaram do estudo cientistas do Centro de
Biologia Molecular e Engenharia Genética (CBMEG) e do Departamento de Genética
e Evolução do Instituto de Biologia (IB) da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp), da Embrapa Informática na Agricultura e do Instituto de Genômica da
Universidade do Arizona, em Tucson (Estados Unidos). Segundo o autor principal do estudo, Paulo Arruda,
professor do IB-Unicamp e coordenador do Laboratório de Estudo da Regulação da
Expressão Gênica do CBMEG, o sequenciamento de um genoma complexo como o da
cana-de-açúcar poderá ajudar a comunidade científica a identificar genes úteis
e compará-los com os genomas de outras plantas. “Usamos essa ferramenta para entender a relação
filogenética – isto é, o parentesco evolucionário – entre os genomas da
cana-de-açúcar, do sorgo e do milho. O artigo descreve como foi preparada a
biblioteca, desde a fragmentação de um trecho do genoma até a clonagem e a
análise. Essa ferramenta poderá ser utilizada por grupos que estudam diferentes
aspectos do genoma da cana-de-açúcar”, disse Arruda à Agência FAPESP. O grupo liderado por Arruda tem trabalhado há anos
com diversos aspectos do genoma da cana-de-açúcar. Atualmente, uma das
principais questões de interesse envolve a relação genética, ao longo da
evolução, entre a cana-de-açúcar e outras espécies importantes para a evolução,
como o milho e o sorgo. Há algum tempo, o grupo trabalha com a hipótese de
que o milho tenha se originado a partir do cruzamento de duas espécies
provenientes da mesma família. “Nossa hipótese é que um ancestral da
cana-de-açúcar pode estar envolvido nesse processo. Mas, para tentar responder
a essa questão, precisamos sequenciar pelo menos uma parte do genoma da
cana-de-açúcar”, explicou Arruda. O genoma da cana-de-açúcar, no entanto, possui
cerca de 750 milhões de nucleotídeos – as “letras” que formam o código genético
–, o que torna seu sequenciamento extremamente complexo.“Uma das possibilidades para se lidar com isso é
construir uma biblioteca BAC. Primeiro, ‘fatiamos’ o genoma em pedaços menores,
de cerca de 125 mil nucleotídeos em média. Depois, clonamos esses trechos
menores em bactérias. Com uma coleção de bactérias com aqueles genes, podemos
produzir rapidamente grande quantidade desse DNA para estudo”, contou Arruda.
Ferramenta disponível
No artigo agora publicado, os cientistas descrevem
como prepararam uma coleção de 136 mil diferentes bactérias, cada uma delas
carregando um trecho de 125 mil nucleotídeos do genoma da cana-de-açúcar. “Mostramos como pegamos uma amostra dessa
biblioteca, ao acaso, e sequenciamos as pontas desses fragmentos de 125 mil
nucleotídeos e pudemos compará-los com o genoma do sorgo”, disse Arruda. Os pesquisadores encontraram no genoma do sorgo o
que seria a correspondência dos trechos clonados do genoma da cana-de-açúcar. “Foi uma primeira análise bem rápida, mostrando que
esses fragmentos se distribuem muito bem e revelam que é possível – do ponto de
vista da constituição em nucleotídeos – que o correspondente haploide do genoma
da cana-de-açúcar seja um pouco menor que o do sorgo”, explicou Arruda. De acordo com Arruda, outros grupos poderão
utilizar a ferramenta para estudar aspectos completamente diferentes do genoma
da cana-de-açúcar, como, por exemplo, fragmentos específicos que controlam o
desenvolvimento da planta, ou estudos de citologia focados na organização do
cromossomo no interior da célula. “Uma vez construídas, essas bibliotecas podem ser
úteis para inúmeros tipos de estudos”, disse. O artigo A BAC library of the SP80-3280 sugarcane
variety (Saccharum sp.) and its inferred microsynteny with the sorghum genome,
de Paulo Arruda e outros, pode ser lido em http://www.biomedcentral.com/content/pdf/1756-0500-5-185.pdf
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